Eu gosto muito de ler distopias.
Delírio, Divergente, Starters e é claro, a minha preferida, a saga Jogos
Vorazes. Muitas vezes me peguei chocada com a crueldade nos atos ditados pela
Capitol, sem ao menos perceber que de maneira as vezes não tão direta, aquela
realidade que deveria ser fictícia se encontra com a realidade qual vivo e
sinto na pele todos os dias.
Não há como negar que tudo o que
vem acontecendo nos últimos dias me atingiu. Talvez não tenha sido tão
fortemente atingida quanto os jovens que estavam lutando pelos seus direitos.
Talvez não fortemente atingida quanto o fotografo que quase perdeu a visão por
causa de uma bala de borracha. Quanto a moça que apanhou, sem ter nada a ver
com aquilo tudo, enquanto saia do trabalho. Quanto o policial que cumpria
ordens e mesmo assim está levando a culpa.
Não tenho o poder de dizer quem
ali é o herói e quem é o bandido. Ambos estão presos a suas realidades. O povo
que tem direito de correr pelos seus direitos, os policiais que cumprem seu
dever. Lógico que ali embutido existem vários tipos de pessoa. O indivíduo que
está ali para lutar pacificamente pelos seus direitos, o ser que só está ali
para causar mais bagunça e aqueles que estão loucos para revolucionar de um
jeito não ético. E de novo, quem sou eu pra julgar o que é ético em um país
onde nossos jornalistas e mídias deveriam nos dizer a verdade e somente a
verdade e enquanto isso nos enchem e nos entopem as ideias com cenas editadas e
utópicas ?
Quem sou eu pra dizer que aqueles
policiais ali estavam somente tentando defender o patrimônio público e defender
a ordem a cima de tudo quando existem imagens de cenas fortes de violência que
partiram desses homens que deveriam nos proteger ?
Enquanto isso, os maiores
causadores dessa revolta se encontram tomando chá e café em Paris. Ou então
dentro de suas mansões de luxo com seus cachorros limpinhos e felpudos.
Enquanto o povo vai às ruas e coloca suas vidas em risco. Enquanto um pai de
família sai de casa para trabalhar e não sabe mais se vai voltar. Enquanto uma
mãe perde um filho. Um tio perde um sobrinho e eu perco um amigo.
Quem já leu/assistiu JV talvez
saiba do que eu falo quando digo que nós estamos dentro de uma arena. Qualquer
passo em falso pode significar nossa morte. Enquanto povo e polícia se
confronta na rua, a elite controladora assiste tudo de camarote embaixo dos
cobertores quentinhos de suas casas. Enquanto manifestantes e militares
deveriam ser um só, nós nos vemos obrigados a lutar entre si.
Disseram-me que o Brasil saiu da
ditadura militar em 1985, mas será que a ditadura saiu daqui ?
É a vida imitando a arte, é a arte imitando a vida... Sempre quis me sentir dentro de um livro, só nunca imaginei que seria JV.
ResponderExcluirDown with the Capitol!
Logo vamos ter pessoas on fire e não de um jeito bom...
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